Lembra daquela entrevista realizada pela Época? Está aí. Você entrevistou.
Mesmo sem ter ido à África do Sul, o jornalista Tiago Leifert, de 30 anos, ganhou projeção nacional na cobertura da Copa do Mundo ao comandar o programa Central da Copa, da Globo. Com sua irreverência, contrariou a formalidade do telejornalismo da emissora e conquistou até aqueles que não gostam de esporte. Em entrevista a leitores de ÉPOCA, Tiago falou sobre humor no jornalismo esportivo, assédio das fãs e vontade constante de inovar: “Se eu conseguir escapar do comodismo que vem com o sucesso, coisas boas vão acontecer”.
QUEM É
Tiago Leifert nasceu em São Paulo em 22 de maio de 1980
O QUE FAZ
É editor-chefe e apresentador da edição paulista do programa Globo esporte desde janeiro de 2009
CARREIRA
Aos 16 anos, começou como repórter cobrindo futebol de várzea para o Desafio ao Galo, da TV Gazeta. Estudou jornalismo e psicologia em Miami e estagiou na NBC. Antes de chegar ao comando do Globo esporte, trabalhou na TV Vanguarda, filiada à Rede Globo, e na SporTV. Durante a Copa do Mundo da África do Sul, apresentou o Central da Copa
Qual foi seu maior desafio ao implantar um novo estilo de apresentação? Foi muito difícil trazer para a Rede Globo um telejornalismo mais despojado?
Murilo de Souza Conceição, Presidente Venceslau, SP, e Brisa Figueiredo, João Pessoa, PB
Tiago Leifert - Houve resistência, claro, como era de se esperar. A mudança de estilo foi brusca. Mas era um desejo da emissora tentar implantar um novo jeito de fazer o Globo esporte. As apostas que a gente fez assustaram um pouco no começo, mas vencemos no final.
Como surgiu a ideia do novo formato do Globo esporte em São Paulo?
Kelly De Conti Rodrigues, Bauru, SP,
Tiago - No fim de 2008, nossos diretores da Central Globo de Esportes decidiram que era hora de mudar a receita. Eles, creio eu, sabiam que eu sempre encarei esporte mais como entretenimento que qualquer outra coisa, e me convidaram para tentar algo diferente do que vinha sendo feito. Pensei em algumas coisas, escrevi um projeto, gravei um piloto e agora estou aqui “teclando” com vocês!
Você sofreu preconceito por ser filho de um diretor da Rede Globo? (Tiago é filho de Gilberto Leifert, diretor da Central Globo de Relações com o Mercado)
Pedro Igor Pimentel Azevedo, Quixeramobim, CE
Tiago - Sofri, sim. Mas acho que hoje, depois de tudo que eu já passei na empresa, ficou claro que o preconceito era muito injusto.
Você estudou telejornalismo nos Estados Unidos e estagiou lá. Isso influenciou sua maneira inovadora de apresentar?
Kely Lima, São Paulo, SP
Tiago - Sem dúvida. Os americanos têm mais espírito esportivo nos telejornais, são mais sossegados, mais soltos. Por lá o esporte é 100% entretenimento.
Você não tem medo da descontração do programa ficar mais importante que a notícia? Até que ponto o humor não compromete a credibilidade do esporte? Qual sua opinião sobre as pessoas que afirmam que o Globo esporte passou de um programa jornalístico para um programa de humor?
Caroline da Silva Duarte, Belford Roxo, RJ, Carina Almeida, Valença, RJ, e Odelmo Serrano, São José do Rio Preto, SP
Tiago - Notícia grave ou séria não foi nem nunca será tratada com descontração. Nunca deixamos de dar uma notícia importante. Fora isso, encaro esporte como entretenimento. Diversão. Saúde. Alegria. Emoção. A gente tem de cobrar seriedade nas eleições, na segurança pública, no governo. O Globo esporte é um programa que tem espírito esportivo, no sentido mais puro da expressão. Quem não tem espírito esportivo briga em estádio, bate em jogador na saída do treino… Essa não é nossa praia.
Qual é sua preparação antes de cada edição do Globo esporte? Você trabalha junto com os editores escolhendo as músicas, imagens e piadas? Como é esse processo?
Nayana Carisa Rocha de Menezes, Fortaleza, CE e Rose Helen Bezerra, São Paulo, SP
Tiago - Sou editor-chefe, então tenho a palavra final em tudo e escrevo a maioria das reportagens feitas na redação (você consegue identificá-las quando ouve a minha voz narrando). Conto, para minha sorte, com uma equipe de gênios. Gênios! Cada um do seu jeito, cada um com uma pegada diferente. Minha rotina é assim: chego às 7 horas da manhã, leio tudo que os repórteres fizeram e escolho os assuntos. Depois, passo as missões para os editores. Tenho quatro duplas de edição. O jornal fica pronto sempre em cima da hora, por volta das 12h45. Depois do jornal tem reunião de pauta, almoço na sequência e continuo trabalhando à tarde para pensar o programa do dia seguinte. À noite, quando tem evento esportivo (vôlei, futebol, basquete) eu assisto a tudo.
Sua fama nacional veio relativamente em um curto período de tempo. Como você está lidando com essa fama tão repentina? O que ela te trouxe de bom e ruim? Você chegou a se assustar com todo esse sucesso?
Yonara de Gouveia Cordeiro, Curitiba, PR, Adriana Favila, Rio de Janeiro, RJ, e Michel Cruz, Ourinhos, SP
Tiago - Sucesso e fama são coisas diferentes. Primeiro, fiquei feliz com o sucesso do Globo esporte SP e do Central da Copa. Duas missões difíceis que, talvez, muita gente duvidasse do sucesso. Deu certo graças à equipe incrível que fez os dois programas (é a mesma equipe). Isso é sucesso: missão cumprida. Agora, a fama é uma consequência disso, mas tem um problema: ela desaparece rápido. Os sucessos ficam marcados, a fama vai embora. A gente não pode acreditar nela. Tem de buscar uma nova missão e ir pra cima. A fama me trouxe de bom novos colegas, uma rede de relacionamentos importante e muito, muito carinho das pessoas. Carinho pelo qual serei grato o resto da vida. A fama vai embora, mas esse carinho vai me marcar pra sempre, pode ter certeza. O que ela me trouxe de ruim? Acho que nada… só ganhei mais um exercício mental diário: não acreditar nela.
A que você atribui sua popularidade, principalmente entre aquelas pessoas pouco ligadas em esporte?
Ana Paula Mussi, Curitiba, PR, e Larissa, São Paulo, SP
Tiago - Meu objetivo pessoal, desde que comecei no esporte, lá no SporTV em 2006, é falar de esporte de um jeito que todo mundo entendesse. Atingir as pessoas que não estão habituadas com esquemas táticos e afins. É, sem dúvida, o maior desafio do Globo esporte.
Você é solteiro?
Thaty Menezes, São Paulo, SP
Tiago - Não, eu namoro.
Como você lida com o assédio do público feminino?
Pamela Lima, Rio de Janeiro, RJ
Tiago - Acho muito louco isso! Muito engraçado. Queria ser tão bonito, inteligente e simpático quanto minhas fãs acham que eu sou! Se eu fosse 1% já estaria excelente. Tenho absoluta noção de que sou um cara mediano. Elas não me enganam!
Depois do grande sucesso do Central da Copa, o público imediatamente incentivou a ideia da criação de um Central do Brasileirão. Vai haver ou não um programa assim?
Nathália Almeida da Rosa, Rio de Janeiro, RJ, e Luís Armando, São Paulo, SP
Tiago - Quem sabe?… Seria legal.
Você abriria mão de apresentar um programa esportivo em troca de um programa de entretenimento também voltado para o público jovem, mas com outros assuntos?
Anna Lorenzoni, Toledo, PR
Tiago - Tudo depende. Depende do projeto, depende de tanta coisa. Estou feliz no Globo esporte, isso que importa.
Como é seu relacionamento com o ex-jogador e comentarista Caio Ribeiro?
Hugo André, Alto Piquiri, PR
Tiago - Caio é um amigo querido. Um cara sensacional. Não conheço uma pessoa que não goste dele.
Você se espelha em algum jornalista? Se sim, qual?
Alan Sousa, Taboão da Serra, SP
Tiago - Não, em ninguém. Sempre tentei buscar meu espaço.
Qual foi o maior “mico” que você já pagou em rede nacional?
Geferson H. Pedro, Piraí, RJ
Tiago - Digita lá no YouTube “Tiago Leifert”. Depois você me conta.
Se você pudesse ser um jogador de futebol por um dia, qual seria?
Evelyn Vieira Ramos, Campo Grande, MS
Tiago - Paulo Henrique Ganso (jogador do Ganso). Gostaria de saber como é ser um jogador habilidoso e inteligente por um dia.
É grande o número de pessoas querendo descobrir para qual time torce, mas você consegue se manter bem imparcial. É difícil manter essa imparcialidade?
Raíssa Fernandes, São Paulo, SP
Tiago - Nem um pouco. Por trabalhar com esporte, você cria um vínculo com todos os times. Você começa a sacar as torcidas, os sentimentos. Você se vê torcendo por boas notícias, se pega pulando muito num gol de um time que antes era seu rival. O Globo esporte me ensinou a amar o esporte acima de tudo. Por isso, fica fácil não descobrir meu time: eu acabo torcendo por todos. É sério.
Qual era seu time de coração na infância? Time da época de criança você pode dizer, né?
Eugênia Ribeiro, Ceará, CE
Tiago - Bela tentativa.
Você está sempre bem-humorado. O que te deixa de mau humor?
Maria Eduarda Lima da Silva, Jaboatão dos Guararapes, PE e Simone Arantes, Itapetininga, SP
Tiago - Injustiça me deixa chateado. Mas não fico mais de 5 minutos bravo com alguma coisa. O tempo nessa vida é curto, bola pra frente!
Que tipo de música você ouve? Qual sua banda ou artista favorito?
Eveline, Três Pontas, MG
Tiago - Como eu era DJ antes de virar jornalista (ainda brinco de DJ!), sou um cara muito, muito eclético. Meu iPod assusta um desavisado. Pode ir de Metallica a Exaltasamba a Frank Sinatra em três cliques.
O segredo do jornalismo atualmente é a convergência de mídias? Como enxerga esse novo tipo de jornalismo que usa as redes sociais?
Danylo Martins, São Paulo, SP e Marina Müller, Florianópolis, SC
Tiago - Jornalismo é conteúdo; mídias convergentes têm a ver com métodos de distribuição, veiculação. O importante é a produção jornalística entender como se encaixar em cada mídia e saber respeitar as novas tecnologias. No momento, a maior mudança é o e-reader, mas creio que revistas e jornais terão facilidade para se adaptar. Até porque virar digital significa cortar custos (papel é mais caro).
O que você acha que a seleção brasileira poderia mudar para a Copa de 2014?
Luiz Henrique, Brasília, DF
Tiago - O talento precisa voltar e Mano Menezes deixou isso claro na primeira convocação.
Quais são suas expectativas e ambições para a carreira?
Thaís Alves Rodrigues, Goiânia, GO
Tiago - Eu estou feliz onde estou agora. Minha grande ambição é nunca se tornar obsoleto, sempre tentar inovar e se reinventar. Acho que se eu conseguir escapar do comodismo que vem com o sucesso, coisas boas vão acontecer no futuro. Preciso saber fazer bem a minha parte.
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