Com uma linguagem divertida e muito “improvisation”, Tiago Leifert recuperou a audiência do Globo Esporte e atraiu um público jovem e feminino. Agora, prepara-se para apresentar um novo programa na Copa.
Tiago Leifert, apresentador e editor-chefe da edição paulista do Globo Esporte, nem sequer vai à África do Sul, mas, com seu jeito divertido de ver o mundo esportivo, promete ser um dos destaques brasileiros da Copa do Mundo de 2010. No programa, em vez de investir na sisudez do quem ganhou, quem perdeu e nos intermináveis tira-teimas e bate-bocas de dirigentes e torcedores, ele fala de esporte com muito humor, em uma linguagem jovem e cheia de referências pop que caiu no gosto de garotas e senhoras. “Olha só as últimas mensagens que recebi no Twitter: de dez, mais de cinco são de meninas”, conta Tiago, ao receber a CRIATIVA na redação do programa. Sim, ele conseguiu fazer mulheres pararem para ver um programa esportivo na hora do almoço.

> Um minuto antes de entrar no ar, Tiago brinca com a câmera e faz um autorretrato no estúdio, onde não há sinal de teleprompter
Grande parte do sucesso do formato está na liberdade do apresentador e de sua equipe. Ele não lê teleprompter, aquele aparelho que mostra o texto a ser dito pelo apresentador. “Aqui é tudo no ‘improvisation’”, diz. Tiago chama jogadores para disputas ao vivo no videogame e não hesita em colocar, no meio de uma matéria, uma inserção nonsense e engraçada – foi em uma dessas que surgiu a expressão “aí, sim, fomos surpreendidos novamente”. A frase, dita por Zagallo em 1974, ao comentar a derrota para a Holanda naquela Copa do Mundo, entra sempre que há alguma surpresa na narrativa e virou um bordão em todo o estado de São Paulo (se você não conhece, pode conferir no YouTube). “Ah, é por isso que tanta gente me pede para repetir essa frase”, comentou Zagallo, ao ser indagado se ele se lembrava de quando criou a pérola que ganhou a boca do povo 26 anos depois.
Outra cria do programa é Ney Paraíba. Não sabe quem é? Ninguém sabia até Tiago dar espaço para aquele atacante de habilidade questionável que se destacava mais pela cabeleira à la Valderrama que pelos gols (gols?) que marcava pelo Guarani no ano passado. Não raramente, Paraíba aparecia mais no programa que nomes como Ronaldo. “Isso é tudo coisa que sai da cabeça do Tiago. Dá trabalho produzir, mas em nove anos no Globo Esporte nunca me diverti tanto”, diz Kariny Dias, editora de texto, uma das seis mulheres (de uma equipe de 18 pessoas) que trabalham no programa. “Só achei que seria demitido quando fiz o funk do Val Baiano no final de uma edição. Por sorte, em vez das 200 mensagens diárias, recebi 1.400, a maioria positiva”, diz Tiago.
Quando criou o formato atual do programa, conta ele, a meta era tratar esporte como entretenimento. A fórmula não foi digerida de cara. “Na gravação dos pilotos, os cameramen se perguntavam: ‘Quem é esse moleque?’, meio sem entender essa história de fazer piada”, lembra Tiago. A estreia ocorreu em janeiro de 2009. Nas primeiras edições, foram muitos tropeços e críticas negativas. Por ter só 29 anos, três anos de casa como repórter do canal pago SporTV e ser filho de Gilberto Leifert, um dos diretores comerciais da Globo, ouvia com frequência que só estava ali por influência do pai.

> O apresentador antecipa no SPTV os principais assuntos da edição do dia do Globo Esporte. E, claro, faz piada com colegas

> Tiago compartilha o camarim com o jornalista Chico Pinheiro, apresentador do SPTV, que às vezes também trabalha no Jornal Nacional
Aos poucos, o jogo virou. Após anos perdendo audiência para programas como Chaves, do SBT, o Globo Esporte registrou no fim de 2009 o início de uma curva ascendente no Ibope – de 15 pontos em 2002, chegou a 10,5 em 2008, e hoje oscila entre 12 e 14 (cada ponto representa 50 mil telespectadores na Grande São Paulo). E Tiago terminou 2009 com os prêmios de Melhor Apresentador de TV pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e de Revelação do Ano pela Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo.

> Uma conversa com o diretor Marco Mora antes de entrar no ar – pela primeira vez, uma matéria de vôlei fechará o programa
A fama já o acompanha há algum tempo. Nos restaurantes, diz se sentir estranho com tanta gente olhando em sua direção. Em geral, são garotos e senhoras que querem tirar fotos com ele. “Principalmente as senhoras. É pensando nelas que faço o programa”, diz Tiago. Até no estúdio os colegas o assediam. Um pede que ele grave um vídeo para dar parabéns à mãe, outro quer um autógrafo para o filho. E as garotas? Atrapalham a relação de cinco anos com a namorada Amanda? “Até agora não tive problemas”, responde ele. Todo dia, porém, ele diz que há ao menos um pedido de casamento entre as cerca de 200 mensagens recebidas pelo Twitter. “@TiagoLeifert Quer casar comigo? vc é um fofo...”, escreve uma garota quando voltamos para sua mesa após o programa. “@danni_mello o que vc me oferece de bom?”, brinca ele, com o mesmo jeito debochado que mostra na TV.
Pessoalmente, aliás, Tiago é tão engraçado quanto no programa. Na redação, no estúdio e nos corredores, brinca com os colegas. No camarim, enquanto tira a maquiagem, dá até conselhos para o veterano Chico Pinheiro, que diz ter morado em Brasília dois anos antes do nascimento da cidade. “Você devia ter falado isso no Jornal Nacional”, comenta Tiago.
Sua rotina é pesada: ele entra na redação às 7h, volta para casa entre 17h e 19h e costuma ver jogos até a meia-noite. Quando chega ao trabalho, começa a preparar a edição do dia do Globo Esporte, e muito do que pede para os editores vem de suas observações sobre os jogos que acompanhou ao vivo na noite anterior. Depois de selecionadas as imagens que ele pediu, grava o “off” das matérias (a narração que acompanha as imagens). Meia hora antes de entrar no ar, anuncia no SPTV as principais atrações do dia. Às 12h40, vai ao estúdio para apresentar o programa. Quando sai do ar, reúne-se com a equipe para discutir as ideias para o programa seguinte. Na conversa, adianta que será jurado da Dança dos Famosos, no Domingão do Faustão – mais um efeito de seu sucesso, que deve ser ampliado durante a Copa, que começa em 11 de junho. O formato de sua atração na Copa não está definido, e os programas-pilotos têm sido testados em meio a essa rotina corrida.
Pouco antes do fim da reunião, uma quarta-feira com jogos decisivos no Brasil e na Europa, ele fala, com cara de quem faz drama: “Isso quer dizer que vou ficar das 15h45 à meia-noite na frente da TV”. “Só digo uma coisa: ainda bem que não sou a Amanda”, comenta Carla Canteras, supervisora de produção do programa. O comentário de Tiago era, obviamente, mais uma brincadeira. Ele se diverte com o que faz. E nós, diante da TV, também.

>Terminado o programa, Tiago corre para o camarim para remover a maquiagem. “É só para tirar o brilho”, faz questão de dizer

> Na sala de reunião, ele se autofotografa enquanto aguarda o resto da equipe para mais uma divertida reunião de pauta
Fonte: http://revistacriativa.globo.com/Revista/Criativa/0,,EMI136248-17376,00-A+NOVA+CARA+DO+ESPORTE.html
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